Foram quase 10 anos de muita estrada, cascalho e asfalto. Apesar da idade avançada, ele disfarçava bem os sinais do tempo. Se não fosse pela ponta do dedão ameaçando furar o cabedal, meu Nike Pegasus ainda fazia pinta de retrô.
COM QUANTAS CAMADAS SE FAZ UM TÊNIS DE CORRIDA
Uma das vantagens de trabalhar no métier é ganhar tênis para testar e não precisar gastar o salário chinfrim de jornalista com isso. Mas esse Pegasus foi um dos únicos que eu fiz questão de comprar. Foi em 2007, na Argentina, porque estava mais barato. E valeu cada peso.
TÊNIS NO EXTERIOR PODE SAIR PELA METADE DO PREÇO
Quando o amortecimento já não segurava mais os treinos de corrida, ele virou aposta certeira para viagens e suas longas caminhadas. Juntos rodamos o mundo. Europa, América Latina, interior de São Paulo e lá estava meu pisante.
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Seus últimos dias fizeram jus à vida de estrada. Quando coloquei ele nos pés para um rolê pelos rincões da Amazônia eu já sabia que talvez aquele fosse seu último suspiro. Mas confesso que a velocidade com que meu tênis velho de guerra se desintegrou me surpreendeu.
Não sei se foi a umidade, a água do rio Tapajós ou a terra fértil da floresta, mas em dois dias o solado se decompôs. Sua derrocada chegou a tal ponto que eu não pude fazer uma caminhada no meio do mato porque sabia que teria que voltar descalça. E, pela primeira vez em tantos anos, meu Pegasus me deixou na mão.
Mas sem ressentimentos, companheiro. Você vai deixar saudades.
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